domingo, 31 de janeiro de 2010

Matéria 14 - Editoria Torcida

Ele faz o que parece impossível

Atleta sem as pernas exibe talento nas quadras

Cristiano ganhou vários campeonatos

Vítima de uma doença rara, Cristiano Souza Silva, 27 anos, nasceu com as duas pernas sem perônio – o osso externo que liga o joelho ao tornozelo. Condenado a uma vida numa cadeira de rodas, sua mãe em uma difícil escolha, abriu caminho à tecnologia das próteses e teve que decidir o futuro do seu filho, optando pela amputação das duas pernas, abaixo do joelho. Mesmo com a deficiência física, Cristiano não deixou os sonhos de lado e se transformou em um grande craque, que encanta a todos durante as partidas de futebol.

Tudo começou quando ele tinha apenas seis anos. Estava ele sentado na calçada de sua casa, no bairro São Joaquim, no extremo sul da periferia de São Paulo, quando outras crianças foram chamá-lo para participar de uma pelada. No primeiro instante diz que achou estranho, só que deixou o medo de lado e foi.

“Fiquei pensando na hora, como eu vou jogar bola com eles se eu não tenho as pernas?, até falei isso, mas eles disseram que iam dar um jeito e eu fui”, relembra.

No início havia um preconceito da parte dos pais de algumas crianças, por Cristiano ser deficiente físico, mas com o tempo isso mudou e até hoje elas fazem parte do mesmo time. Mas o preconceito agora parte de outros jogadores de times adversários que, ao chegar aos campeonatos regionais, se recusam a jogar com ele, o xingam de aleijado ou até partem para a agressão na hora do jogo, e ele é obrigado a abandonar a partida e ficar na arquibancada.

“Até hoje, alguns me elogiam, outros me discriminam”, descreve. Ao relembrar sua história ele conta que o preconceito era bem maior, porque não era apenas nas quadras e gramados e sim, na sociedade. Há oito anos traficava, era usuário de cocaína e foi integrante de grupos de pichadores que saía até em páginas de jornais.

Com altos e baixos, ele relembra alguns momentos marcantes,o dia do campeonato em 2002 foi um deles, quando o seu time precisava de apenas um gol e ele, do meio da quadra, lançou a bola e fez do seu time o vencedor. Outro dia marcante foi a demissão do trabalho por jogar futebol. No horário do almoço Cristiano foi para quadra e perdeu a noção do tempo. Para o azar dele, justamente na hora o chefe passou e o demitiu.

Hoje, ele trabalha, faz faculdade de teologia e após ter abandonado os vícios, se orgulha de sua mudança e principalmente do respeito que conquistou no bairro em que mora. “Mudei muito, Jesus mudou a minha vida. Não podemos baixar a cabeça nunca, se você é rico ou pobre, sempre vai ter problemas, mas tem que ter perseverança e batalhar, e agora o que eu batalho sempre é para ajudar o meu pai a abandonar a bebida. Se eu mudei, ele também pode”, declarou.


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