terça-feira, 16 de junho de 2009

Matéria 10 - editoria Vida Real

É correto dar esmolas?


Certo dia, comecei a observar dentro do ônibus, entre o percurso casa, serviço e faculdade, quanto os pedintes arrecadavam durante os cinco minutos - tempo máximo em que eles vendiam o seu “peixe”. A partir dessa observação iniciei uma pequena conta e cheguei a conclusão de que era possível tirar cerca de R$6,00 por hora, mas para comprovar, teria que passar por uma experiência única, me transformar em pedinte por um dia.

A experiência foi mais do que única, foi triste. Ao me “vestir de pedinte” e sair arrecando moedas, as pessoas me olhavam com nojo e desprezo. Confesso que foi a pior sensação que tive até hoje. Em cada ônibus que eu entrava, a vergonha aumentava e a vontade de chorar também, da mesma forma que eu entrava, de cabeça baixa, eu saía.

Naquele instante passei a olhar de outra forma o lado dos pedintes, só que mesmo assim não mudei a minha posição em relação a exploração da solidariedade, pois pude perceber que mesmo diante da humilhação, nunca havia ganhado dinheiro tão fácil em minha vida e para a minha surpresa, consegui arrecadar R$7,35 por hora.

Ao dar uma esmola, muitas pessoas pensam que estão ajudando, mas na verdade estão contribuindo para a permanência dos pedintes nas ruas. Sei que existem pessoas que realmente precisam, só que não posso deixar de lado as que aproveitam da bondade para conseguir dinheiro fácil, fora aquelas que exploram crianças e interrompem o futuro de muitas.

O trabalho nas ruas é a atividade que mais cresce entre os jovens de 6 a 18 anos, segundo a pesquisa da Fundação Telefônica, entre outubro de 2007 e junho deste ano. Dentre os jovens que declararam desenvolver algum tipo de trabalho, 45% disseram que trabalham nas ruas. De acordo com dados da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS), calcula-se em R$25 milhões por ano o movimento de esmolas da cidade de São Paulo.

A cada dia, essa máfia de dinheiro cresce e com base nesses dados é que eu defendo a minha opinião de ser contra. Em um primeiro momento, sei que ser pedinte não é opção de vida e sim decorrência de uma sociedade não igualitária, mas a partir do momento em que a prática de ser pedinte se torna freqüente, vira acomodação, porque quem quer mudar de vida, luta, não mendiga.

"Pesquisa aponta que, conforme as crianças crescem, a capacidade de sensibilizar as pessoas é menor. Assim, 70% dos que pedem esmola têm menos de 12 anos de idade." Fonte FIPE - (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas)

Matéria 9 - editoria Vida Real

Drogas, e agora?

A história de quem vive ou já viveu o drama e o mais importante: como lidar com a situação



Ana Paula Amanso, 39, há três meses abandonou o crack que, segundo ela, passou a usar para fugir dos problemas que enfrentava na época. Por vergonha de sua aparência, deixou a casa, o filho de 13 anos e os familiares, e passou a ser moradora de rua. A família, no desespero, chegou a fazer boletim de ocorrência, relatando que Ana havia desaparecido.

“Depois que a minha mãe foi à delegacia, acho que ficou desconfiada e ia direto à Cracolândia me procurar, só que eu me escondia. Não queria que ela me visse naquele estado”, relata Ana que, durante três meses, fugiu da família.

Hoje, recuperada do vício e após ter retornado para a casa, Ana enfrenta outro problema. “A minha dificuldade é conseguir tirar do crack a pessoa que me ajudou a sair, o meu marido”, desabafa.

Todos os dias ela sai para vender bolos, tortas, café e chá, no ponto de ônibus no centro de São Paulo. Quando termina a sua “jornada”, ela continua no centro e passa o restante do dia, pois esta foi a única maneira que encontrou para ficar perto do marido, que às vezes chega a ficar 7 dias fora de “casa”, na mesma situação em que ela ficava como moradora de rua.

Ana Paula afirma que para abandonar o vício, além da força de vontade, a pessoa tem que ter o apoio da família e é por isso que ela fica no centro para ajudar o marido. Nos dias de hoje, existem diversos fatores que levam as pessoas a consumirem drogas. Entre os quais, ela destaca a vontade de pertencer a um grupo, curiosidade, ilusão de solucionar o problema, diversão, fácil acesso ou até mesmo por conta de uma família desestruturada.


“Só percebi que o olho dele era azul na cadeia”
Tia e mãe de criação relatam que ao visitar o sobrinho na cadeia a sensação foi terrível, mas que pela primeira vez viram o quanto ele era bonito. “Estava nervosa, mas quando vi o meu sobrinho, o meu coração ficou tranqüilo. Ele estava com a pele tão rosada, o olho dele estava azul, sendo que nunca eu conseguia ver, porque sempre estava drogado e com os olhos vermelhos, nunca vi ele tão bonito” (sic), relata Ione Amorim Siqueira.

Desde pequeno, Thiago Siqueira Amorim, 20 anos, foi criado com a ajuda de sua tia, até os 4 anos morou com ela e logo após foi levado pela família paterna. Ao completar 9 anos, seu pai o levou para a tia novamente e essa foi a história de Thiago, com idas e vindas.

“Desde criança ele nunca morou em um lugar fixo, sempre passou de mão em mão desde pequeno. Não tem como julgar, porque no caso dele faltou carinho”, diz. Thiago Amorim, 20 anos, foi preso por furto. Há três meses, ele foi flagrado roubando um microônibus no bairro onde morava, o dinheiro seria usado para comprar crack e maconha, durante este período ele mandou cartas com pedidos de desculpas e frases de arrependimento, mas basta a família pensar que tudo vai melhor, que o rapaz de 20 anos volta a cometer erros.

Thiago que estava ameaçado no bairro onde morava, na zona sul, agora é ameaçado dentro da cadeia. “Pensei que depois que ele foi preso ia melhor, mas agora está pior, porque ele faz dívidas de drogas lá dentro e joga para a família pagar”, relata Ione Amorim, que hoje tem medo de ficar em casa, após ter sido ameaçada por telefone.

“Depois que invadiram a minha casa, eu tenho medo de atender o celular, porque eles ligam pedindo dinheiro e que se não depositar vão matar o meu filho, eu não consigo dormir direito e até tirei a campainha de casa”, declara Maria Erlândia, mãe biológica de Thiago, que espera pelo julgamento do filho.

O sofrimento que a família passa nessas horas é enorme, nos dias de hoje, existem diversos fatores que levam as pessoas a consumirem drogas dos quais se destacam: vontade de pertencer a um grupo, curiosidade, diversão, fácil acesso, família desestruturada ou até mesmo pela ilusão de solucionar problemas.

Fique atento!

Voz da Periferia: Como os pais podem notar que seu filho está usando algum tipo de droga?
Tatiana Helena - Especialista em Dependência Química: O consumo de substâncias químicas altera o comportamento do indivíduo, alguns indicativos tais como abandono de atividade antes prazerosas, dificuldade para dormir ou excesso de sono, apetite e até mesmo agressividade.

Voz da Periferia: Ao perceber comportamentos estranhos, ainda no início do problema, qual deve ser a reação dos pais?
Tatiana Helena - Especialista em Dependência Química: É estreitar e fortalecer o vínculo afetivo, orientá-lo a respeito dos prejuízos causados pelo consumo de substâncias psicoativas, sem “terrorismo”. Os pais devem buscar auxilio em instituições ou livros/artigos que falem sobre os problemas causados e por fim buscar um local específico que ofereça tratamento.

Voz da Periferia: Se o consumo de drogas já está em estágio avançado, qual é o melhor caminho para a recuperação?
Tatiana Helena - Especialista em Dependência Química:
Pesquisar, procurar um local adequado para o tratamento de pessoas que tenham problemas relacionados do consumo de álcool e drogas.

Matéria 8 - editoria Sua Chance!

Agência gratuita oferece cursos e orientação profissional

Além de buscar vagas, interessados podem aprender a elaborar currículos e a se comportar em dinâmicas e entrevistas


Valdelice Rubens Silva, 29 anos, que sempre trabalhou como voluntária do SRE, Serviços de Recursos de Emprego, começou a trabalhar há três meses com a ajuda da agência, depois de ter ficado sete meses desempregada. Foi no SRE que aprendeu a lidar com computador, recepção e atendimento telefônico.

Mesmo depois de conseguir um emprego fixo, numa loja de manutenção de celulares, Valdelice ainda é voluntária do SRE. Todos os dias, quando sai do trabalho, às 16h, ela vai para a agência ajudar no que for preciso.

O SRE recebe cerca de 550 visitas por mês e tem cinco unidades no estado, em Campinas, Sorocaba, ABC e Santos, além da agência na capital, que fica na Avenida Paulista. Cerca de dez voluntários trabalham no atendimento na unidade de São Paulo, que funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 15h.

Além de encaminhar para entrevistas de trabalho, a agência realiza vários cursos gratuitos como departamento pessoal, escrituração fiscal, auxiliar administrativo e telemarketing. Todos os professores são voluntários e especialistas na área.

O SRE também realiza um curso chamado CASP, Curso de Auto-Suficiência Profissional, que ensina como elaborar currículos e como se comportar em entrevistas e dinâmicas de grupo. Foi deste curso que Patrícia da Silva Soares, 23, participou. “Este curso, além de outro de telemarketing, me ajudaram a elaborar currículos, me comportar em entrevistas e aprender técnicas para ingressar na área de telemarketing”, afirma.

Para os que procuram cursos técnicos ou superiores, a agência disponibiliza manuais e guias de cursos e universidades. Já para os que procuram emprego, o SRE oferece livros, revistas e jornais para a atualização e consulta de vagas, além de acesso à internet para elaboração e envio de currículos às empresas.

Valdelice lembra que ela não é a única a ter a experiência de encontrar um emprego por meio da agência. “Conheço muitas pessoas que conseguiram trabalho por meio do SRE. Às vezes elas ligam para nos agradecer”, conta ela, que atualmente mora em Valinhos, interior de São Paulo.


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