domingo, 31 de janeiro de 2010

Matéria 19 - Editoria Fala aí

O catador de sonhos

Um cinema feito com materiais encontrados no lixo já fez os olhos de muitas crianças brilharem na periferia de Taboão da Serra


A sala é simples, falta apoio financeiro, mas Zagatti sonha com o dia em que possa ter tudo o que um cinema tem direito


A história de José Luiz Zagatti, 56, é conhecida no Brasil e fora dele, ele já foi notícia em mais de 20 jornais, revistas e programas de televisão. O catador de papelão, nascido em Guariba, interior do estado, montou o Mini Cine Tupy, no Jardim Record, em Taboão da Serra, com filmes e projetores encontrados no lixo. Zagatti, que estudou só até a 3ª série do ensino fundamental, criou seu primeiro projetor aos 12 anos e se encantou com o mundo do cinema, cultura que procura levar aos moradores de sua região, mesmo sem apoio financeiro e com uma estrutura simples, mas com muita boa vontade e paixão.

Voz da Periferia - Quando o senhor foi a um cinema pela primeira vez?

Zagatti – Aos cinco anos de idade. Fui com a minha irmã, ela já tinha uns 12 anos de idade. Eu me lembro bem, parece que foi ontem, nunca mais esqueci. Eu fiquei encantado com aquele ambiente do cinema.

Voz da Periferia - Depois dessa primeira vez, o senhor foi a cinemas muitas outras vezes?

Zagatti - O quanto podia. Meu pai sempre ia na padaria ao lado do cinema eu ficava em frente ao cinema, porque para mim era um encanto, aquela lembrança do interior, para mim parecia a mesma imagem. Mas eu era pequeno, quando eu cresci passei a freqüentar esse cinema. Por isso que aqui tem o nome de Mini Cine Tupy, é uma homenagem ao Cine Tupy.

Voz da Periferia - Quando o senhor começou trabalhar como catador de sucata e como achou o seu primeiro projetor?

Eu montei um negócio próprio, faz uns 15 anos. Mas não deu certo, faliu. Fui procurar emprego, mas não achava e a situação foi ficando difícil. Eu pensei: o jeito é catar papelão e vender. Aí comecei a tirar o sustento da minha família e graças a Deus o que eu sempre quis, desde a infância no interior, eu consegui realizar, o sonho de fazer platéia, projetar um filme para as pessoas da periferia, porque encontrei o projetor no lixo.Quando comecei a catar papel passei a encontrar no lixo esses materiais quebrados e fui trazendo para casa e montando.

Para mim era uma riqueza encontrar aqueles materiais Eu montei aquele projetor, emendei aqueles pedaços e rolos de filme e comecei a projetar.

Voz da Periferia - Como foi a sua primeira projeção de filme?

Zagatti - Eu esperei anoitecer, coloquei um lençol na parede e projetei os filmes que eu havia emendado. Esse filme já foi passado na TV Cultura. Era pedaço de um, pedaço de outro, um era chiado, o outro preto e branco. As crianças nunca tinham visto aquilo na vida, elas foram se aproximando curiosas, olhando a luz do projetor, olhando o lençol. “Seu Zagatti o que é isso? Isso é cinema!”, eu respondia. Aí elas sentavam para assistir. Também tinha algumas pessoas no bar e elas saíram e vieram assistir o filme.

O cinema aqui é modesto, é pobre, mas a gente passa filme que é exibido em qualquer cinema. Eu tenho VHS, mas DVD também. Não ficamos só nos filmes antigos.Todo cinema tem pipoca e aqui as pessoas nem pagam para o cinema, nem para a pipoca, porque a maioria das crianças não tem dinheiro nem para comprar pipoca. Elas têm direito. Já que elas não podem ir lá no “cinemão”, venham no cineminha.

Voz da Periferia - O senhor fez o seu primeiro projetor aos 12 anos, alguém te ensinou?

Zagatti - Não, foi intuição. Eu consegui na época um pedaço, um rolo de filme. Aí eu fi z um projetorzinho com uma lente de óculos, uma caixa de madeira e um farolete, não tinha luz na cidade naquela época. Depois coloquei duas tampas de lata para enrolar o filme. Eu projetava aquilo na parede, claro que não tinha som, nem movimento, só fi cava o quadrinho, que eu ia mudando. Era um filme do Mazzaropi, o Chico Fumaça, mas naquela época eu não sabia. Hoje eu sou fã do Mazzaropi.


Voz da Periferia - E como foi criado o cinema? Como o senhor conseguiu ajuda?

Eu fui atrás de colecionadores, pessoas que podiam me emprestar filmes. Eu explicava que era catador de papel, passava filmes para crianças e não tinha dinheiro para comprar filmes.

Passei a freqüentar uma biblioteca que reunia colecionadores e conheci pessoas que me emprestavam filmes, eu trazia para casa e divulgava a exibição para as pessoas do bairro.

Voz da Periferia - Como o senhor continuou esse trabalho de levar o cinema para a periferia?

Zagatti - Eu andava com o meu carrinho, catando papel na rua, via uma parede boa para projetar filme, conversava com o morador daquela casa e explicava que eu queria passar um

lme para as crianças ali. As pessoas não entendiam, eu com aquele carrinho dizendo que que-ria passar filme? Eu passava, mas nem sempre dava certo, porque às vezes chovia e eu tinha que cancelar.

Aí eu pensei que precisava exibir os filmes em escolas. Um dia encontrei um jornal no lixo que tinha o telefone da Secretaria Estadual de Cultura do Taboão.

Decidi ir lá para falar com o secretário, mas foi muito difícil falar com ele, mas eu me sentia no direito de falar com ele, eu precisava conversar. Consegui falar com a assessora do secretário.

Conforme eu fui contando meu trabalho, eles foram se interessando. Depois me convidaram para fazer a 1ª Mostra de Cinema Nacional, foram três dias de filmes. Depois disso eu trabalhei por seis anos na Secretaria Estadual de Cultura. Fui contratado pelo Marcos Mendonça, presidente da Fundação Padre Anchieta, da TV Cultura. Eu levava o cinema para a periferia, para idosos, para a Grande São Paulo.

Mas mudou toda a Secretaria, o Governo e eles queriam que eu fizesse um trabalho interno, que não era nada de cinema, e não é isso que eu quero, eu quero trabalhar com gente. Mas eu fui para vários lugares da cidade, vários asilos naquela época.

Voz da Periferia – As sessões de domingo continuam?

Zagatti – De uns tempos pra cá ficou mais difícil. Nem sempre dá. A lâmpada do meu projetor ficou desgastada e fiquei alguns meses sem poder exibir. O público se distanciou porque sempre que eles vinham e eu dizia que ainda não tinha condições, aí as pessoas se afastaram. Agora que consegui a lâmpada e vou voltar às sessões.

Voz da Periferia - Qual é o seu maior sonho?

Zagatti – Meu sonho é conseguir continuar o meu trabalho, ter estrutura. Eu queria que esse espaço tivesse qualidade, todo o conforto que uma pessoa merece. Eu acho que não tem diferença quem mora no Morumbi e quem mora na favela, é gente também e tem os mesmos direitos.

Eu queria que aqui fosse parecido com uma sala de cinema, tivesse carpete, ar condicionado. Meu sonho é esse, olhar as pessoas e ver que elas estão se sentindo bem aqui.


Matéria 18 - Editoria Seu bolso

Armazenamento doméstico: você já ouviu falar?

Técnica faz com que alimentos durem por muitos anos e sejam úteis em momentos de maior necessidade




O armazenamento foi util para a família em um momento de desemprego

Você sabia que o alimento que você compra hoje pode durar três, cinco, 15 anos? A dona de casa, Cassia Fontinele, 37, estoca vários tipos de alimentos há seis anos, desde que se casou.

Ela aprendeu diversos métodos de armazenamento doméstico nas reuniões do grupo de mulheres da igreja que freqüenta, A Igreja de Jesus Cristo dos Santos Dos Últimos Dias, na região do Capão Redondo, zona sul, onde vive.

“Há dois anos, quando meu marido ficou desempregado, cheguei a ter 100 kg de arroz estocado e outros alimentos. Isso ajudou muito naquela época”, conta ela, que todos os meses separava uma quantia de alimento pensando nashoras de necessidade. O estoque de alimentos pode ser feito com recursos simples, como alho e álcool.

O método de armazenamento com alho dura entre um ano e um ano e meio. Já o feito com álcool dura de dois a três anos. O que pode chegar a 15 anos é o armazenamento feito com gelo seco.

A primeira vista parece complicado, mas para armazenar não é necessário nada mais, nada menos que garrafas pet ou potes de vidro.“Eu comecei usando o método com alho, mas teve uma época em que o alho encareceu e, além disso, durava menos de dois anos. Passei para o método com álcool, que dura mais e não fica com gosto”, explica Cássia.

A prática de estocar alimentos é pouco conhecida e deve ser feita da maneira correta. “Não há riscos para a saúde, mas o armazenamento deve ser bem feito, caso contrário os alimentos podem mofar, mas é difícil acontecer, porque o alimento fica bem visível”, explica a nutricionista Patrícia Brito da Silva.

Arroz, lentilha, feijão, açúcar, leite em pó, todos estes alimentos fazem parte do estoque de Cassia. “Eu armazeno e esqueço, só uso quando precisar realmente ou quando o alimento estiver velho”, conta ela.

Como chegou aos 100 kg de arroz? Ela explica que é simples: “Não precisei armazenar 5 kg de arroz por mês, quando podia, guardava uma boa quantia, quando não, só pegava um copo do arroz e separava”, relembra.

Qualquer pessoa pode se perguntar: mas como armazenar ganhando salários baixos? Separar pequenas quantias por mês e aproveitar bem as promoções é uma boa opção, além disso, ela diz que a determinação é importante. “Se você for olhar que as coisas estão difíceis você nunca vai armazenar. Em último caso, de desemprego, doença, qualquer coisa, você pode pedir ajuda das pessoas, mas, e se você tiver o armazenamento? A situação fica mais tranqüila”, afirma.

Métodos de Armazenamento

1° Com alho (duração: 1 ano a 1 ano e meio)

Material necessário:

Alho e garrafa pet

1 - Desinfete uma garrafa pet com álcool, tanto por dentro, como por fora, e deixe secar.

2 – Alterne camadas do alimento que pretende armazenar (arroz, feijão, soja, etc) com três dentes de alho por camada.

3 – Feche a garrafa e a mantenha em local seco e limpo.

2° Com álcool (duração: 2 a 3 anos)

Material necessário:

Álcool, algodão, papel alumínio e garrafa pet.

1 - Desinfete a garrafa pet com álcool, tanto por dentro, como por fora, e deixe secar.

2 – Coloque o alimento na garrafa até chegar próximo a tampa

3 – Faça uma bolinha aberta com o papel alumínio, molhe o algodão no álcool e coloque dentro da bolinha de papel alumínio.

4- Coloque a bolinha dentro da garrafa

3° Com gelo seco (duração: 13 a 15 anos)

Material necessário:

Pote de vidro com tampa, gelo seco, álcool, fi ta isolante e vela.

1 - Desinfete o vidro com álcool, tanto por dentro, como por fora, e deixe se-car.

2 - Coloque o gelo seco dentro do pote.

Para cada kg de alimento, coloque 100 gramas de gelo seco.

3 - Tampe o pote parcialmente e espere, cerca de uma hora, até que o que gelo evapore totalmente.

4 - Feche o pote e passe fi ta isolante em volta da tampa.

5 - Derreta a parafina da vela e passe em volta da fi ta isolante da tampa. Esse método permite que nenhum ar entre no pote, o que conserva o alimento por muito tempo e acenda um fósforo no algodão. Feche a garrafa rapidamente para não perder o vácuo dentro dela. Mantenha em local seco e limpo.

Matéria 17 - Seu bolso

Aprenda a se vestir bem com pouco dinheiro

No brechó da Inês, na zona sul de São Paulo, você consegue encontrar roupas de marca por até R$ 2,00

Para Miriam Mendes Cardoso, 41anos, cliente do brechó desde 2003, a idéia de criar uma loja com roupas usadas foi ótima, porque tem variedade e os preços são irresistíveis. Com acessórios coloridos, estampas de todos os tipos, marcas de roupas nacionais e internacionais, o Brechó da Inês exibe várias tendências, ajuda você a ficar na moda e o melhor, gastando bem pouquinho.

“Se não fosse o brechó da Inês eu nunca teria condições de vestir roupas de marca. Jamais teria uma blusa da Daslu ou Zara, afinal são muito caras”, afirmou a cliente

Miriam Mendes, que chegou a pagar R$ 8,00 em uma blusa da Daslu, sendo que na loja a mesma peça custa R$350.

O Brechó, que existe há 16 anos, se tornou o ponto de encontro no bairro Parque Figueira Grande, localizado na periferia da zona sul. Os clientes se transformaram em amigos e muitos vão até o brechó não para comprar e sim para bater um papo com Inês Nunes Maia, 47 anos, dona do brechó.

Com um cadastro de 100 pessoas que comparecem todas as semanas para conferir as novidades, Inês conta algumas histórias e uma delas é a da cliente mais antiga. “A Dona Maria freqüenta aqui há 16 anos e sempre conta que por não ter condições de comprar roupas tinha vergonha de ir à igreja, e que ficava escondida no último banco. Hoje ela brinca e agradece que graças ao brechó ela faz questão de desfilar os modelos na igreja”, relata.

O comércio de objetos usados hoje se transformou em um dos melhores lugares para se comprar roupas e acessórios. “Antigamente brechó era motivo de chacota e hoje tudo mudou. As pessoas vêm aqui pelo preço, porque sempre trabalhamos pensando no bolso dos clientes e também pelas peças exclusivas que dificilmente você vai encontrar outra igual”, diz Inês.

Os clientes são bem variados, lá você encontra donas de casa, estudantes, médicos, auxiliares, administradores, garis e pessoas de outras regiões, e todos com um único objetivo – encontrar roupas a preço de banana, como por exemplo, mochila da marca Kipling que no Shopping sai por R$300,00, e no brechó é vendido por R$20,00. Tênis Converse All Star que no Shopping é vendido por R$50,00 e no brechó sai por R$12,00, entre outras variedades.

“Aqui eu não chamo de Brechó, e sim Shopping da Inês, porque aqui eu encontro tudo”, relata Maria do Carmo, cliente há 15 anos e que faz questão de visitar a loja de peças usadas todas as semanas para conferir as novidades e mudar o visual.

Clique na imagem para visualizar:




Matéria 16 - Editoria Seu Bolso

Economize na compra da cesta básica

Pesquisando bem é possível poupar mais de mil reais por ano





Todos os meses, a dona de casa, Ana Cinthia Gabriel, 22, percorre os quatro supermercados próximos de sua casa procurando os melhores preços. Ela não abre mão dessa rotina, que

afirma ser muito econômica. “Eu vejo o que estou precisando em casa, faço uma lista e pesquiso nos quatros supermercados próximos de onde moro. Os preços sempre são muito diferentes”, explica.

Ana Cinthia tem razão, a diferença nos preços dos alimentos varia muito. Para conferir essa variação, a reportagem do Jornal Voz da Periferia decidiu pesquisar o preço da cesta básica em oito supermercados das quatro zonas de São Paulo, tanto em mercados de bairro, como em grandes redes de supermercados.

O leite, por exemplo, que para Ana Cinthia é essencial, já que tem uma filha de um ano, chegou a uma variação de aproximadamente 40%, de R$ 1,39 a R$ 1,95, o que, para ela, representa uma economia de R$ 80,64 por ano, já que consome 12 litros de leite por mês.

‘Fique sempre atento com as promoções. Alguns supermercados diminuem o preço de um produto e aumentam o preço de outros”.

O que chama mais a atenção é a grande diferença no preço da batata e do tomate. No Carrefour de Pirituba foi possível encontrar a batata por R$ 0,69 o quilo, já no supermerca-do da mesma rede, na Giovanni Gronchi, o quilo saiu por R$ 1,99, uma variação de 190%.

A grande diferença se deve a promoções na rede. O quilo do tomate variou de R$ 0,89 a R$ 2,39, uma variação de 170% e uma economia de R$ 162,00 ao ano, levando em conta os nove quilos de tomate listados na cesta básica mensal do DIEESE.

É claro que nem sempre o consumidor consegue pesquisar em diversos supermercados. Mas nos oito supermercados pesquisados a equipe do Jornal Voz da Periferia chegou à conclusão que uma grande economia pode ser feita, cerca de R$ 89,54 por mês, ou R$ 1074,48 ao ano, listando os itens mais baratos de cada estabelecimento. (veja no quadro abaixo)

“Faça uma lista dos alimentos e produtos que são mais importantes para a sua família, assim você evita levar produtos desnecessários e esquecer os importantes.

"Fique sempre atento com as promoções. Alguns supermercados diminuem o preço de um produto e aumentam o preço de outros”.

Já pesquisando a cesta básica completa em cada supermercado, e não apenas o alimento mais barato em cada um, a variação é de 18%, ou R$ 34,67, o que representa uma economia de R$ 408,00 ao ano. (veja na lista ao lado).

“Cuidado com o bolso: se você ganha um salário mínimo por mês, deve trabalhar mais de 124 horas para comprar a cesta básica, de acordo com dados da DIEESESP”.

Maria Inês Dolci, 50, coordenadora institucional da Pro Teste, associação de direitos do consumidor, e colunista do jornal Folha de São Paulo, dá uma orientação. “Faça uma lista do que está precisando, tenha idéia dos preços em outros supermercados e tenha cuidado com as promoções. O brasileiro é muito consumista, precisa aprender a comprar somente o que precisa”, diz ela.

Clique nas tabelas abaixo para visualizar:





Aprenda a variar o cardápio sem afetar o seu bolso

Em época de carne bovina cara, pesquisar vira uma tarefa e se o seu orçamento não permite colocar carne à mesa diariamente, saiba que existem bons substitutos a preços acessíveis.

Com as variações constantes de preço, a presença da carne vermelha se tornou raridade na mesa das famílias brasileiras e, com isto, as donas de casa passaram a mudar o cardápio, substituindo carne vermelha por carnes brancas, como peixe e frango.

Além de a carne branca ter um baixo teor de gordura, alto nível de vitaminas, proteínas e minerais, ela também possui um preço bem inferior. Hoje, 1 quilo da carne vermelha varia de R$8 a R$14 e com esse mesmo valor é possível comprar até 3 quilos de carne branca e caprichar no prato do dia.

Outro detalhe que a consumidora sempre deve estar atenta é na hora de fazer a pesquisa de mercado. Se você está acostumado a comprar no primeiro lugar que vê, pare com esse costume, pois a diferença de preço entre um açougue e outro é enorme.

No Paraisópolis a equipe do Jornal Voz da Periferia, encontrou dois açougues na mesma rua, a distância entre os dois era de apenas 10 metros, já a distância do preço era gritante.

Em um, o quilo do Coxão Duro custava R$11,95, já no segundo açougue a mesma carne saía por R$8,98, uma diferença de 25%, o que garante uma economia considerável para ser aplicada em outra compra.

Matéria 15 - Editoria Torcida








Dribles, marabalismos e toda a liberdade que a modalidade conhecida como Street-ball permite. Essa é a paixão de muitos garotos da Brasilândia, zona norte de São Paulo.

“O legal é que você cria os seus movimentos, várias graças, é um esporte que te dá muita liberdade”, explica Ricardo Queirós, 20, jogador do time da CUFA de São Paulo, Central Única das Favelas.

O basquete de rua surgiu nos subúrbios dos Estados Unidos e logo se espalhou pelo mundo. Ele chegou à CUFA do Rio de Janeiro em 2001, no Hutúz Rap Festival, maior evento de Hip Hop da América Latina.

A partir daí surgiram campeonatos nacionais e regionais e a organização criou a LIBBRA - Liga Brasileira de Basquete de Rua, que se tornou referência nesta modalidade. Para fazer parte do time da CUFA, os jogadores foram escolhidos no SEBAR – 2006, Seletiva Estadual de Basquete de Rua.

Bruno Muniz, 20, começou a jogar o basquete tradicional aos nove anos, quando ganhou uma bola. Só conheceu o basquete de rua assistindo vídeos, gostou tanto que procurou esta nova modalidade. “Há dois anos entrei no time da CUFA, o que me possibilitou conhecer muita gente diferente e ter novas oportunidades”.

Os integrantes do time não recebem salário, algumas vezes participam de eventos que lhes rendem um cachê, mas nada fixo, o time é formado do gosto pelo esporte.

Além das partidas e apresentações, o time da CUFA também realiza as chamadas “Clínicas de Basquete”, onde ensinam jovens e crianças da periferia ou em unidades da Fundação Casa, antiga FEBEM, a arte e técnica do basquete de rua.

Matéria 14 - Editoria Torcida

Ele faz o que parece impossível

Atleta sem as pernas exibe talento nas quadras

Cristiano ganhou vários campeonatos

Vítima de uma doença rara, Cristiano Souza Silva, 27 anos, nasceu com as duas pernas sem perônio – o osso externo que liga o joelho ao tornozelo. Condenado a uma vida numa cadeira de rodas, sua mãe em uma difícil escolha, abriu caminho à tecnologia das próteses e teve que decidir o futuro do seu filho, optando pela amputação das duas pernas, abaixo do joelho. Mesmo com a deficiência física, Cristiano não deixou os sonhos de lado e se transformou em um grande craque, que encanta a todos durante as partidas de futebol.

Tudo começou quando ele tinha apenas seis anos. Estava ele sentado na calçada de sua casa, no bairro São Joaquim, no extremo sul da periferia de São Paulo, quando outras crianças foram chamá-lo para participar de uma pelada. No primeiro instante diz que achou estranho, só que deixou o medo de lado e foi.

“Fiquei pensando na hora, como eu vou jogar bola com eles se eu não tenho as pernas?, até falei isso, mas eles disseram que iam dar um jeito e eu fui”, relembra.

No início havia um preconceito da parte dos pais de algumas crianças, por Cristiano ser deficiente físico, mas com o tempo isso mudou e até hoje elas fazem parte do mesmo time. Mas o preconceito agora parte de outros jogadores de times adversários que, ao chegar aos campeonatos regionais, se recusam a jogar com ele, o xingam de aleijado ou até partem para a agressão na hora do jogo, e ele é obrigado a abandonar a partida e ficar na arquibancada.

“Até hoje, alguns me elogiam, outros me discriminam”, descreve. Ao relembrar sua história ele conta que o preconceito era bem maior, porque não era apenas nas quadras e gramados e sim, na sociedade. Há oito anos traficava, era usuário de cocaína e foi integrante de grupos de pichadores que saía até em páginas de jornais.

Com altos e baixos, ele relembra alguns momentos marcantes,o dia do campeonato em 2002 foi um deles, quando o seu time precisava de apenas um gol e ele, do meio da quadra, lançou a bola e fez do seu time o vencedor. Outro dia marcante foi a demissão do trabalho por jogar futebol. No horário do almoço Cristiano foi para quadra e perdeu a noção do tempo. Para o azar dele, justamente na hora o chefe passou e o demitiu.

Hoje, ele trabalha, faz faculdade de teologia e após ter abandonado os vícios, se orgulha de sua mudança e principalmente do respeito que conquistou no bairro em que mora. “Mudei muito, Jesus mudou a minha vida. Não podemos baixar a cabeça nunca, se você é rico ou pobre, sempre vai ter problemas, mas tem que ter perseverança e batalhar, e agora o que eu batalho sempre é para ajudar o meu pai a abandonar a bebida. Se eu mudei, ele também pode”, declarou.


Matéria 13 - Editoria Torcida

Cafu: da periferia para o mundo

Jogador visita Jardim Irene e relembra a infância e juventude no bairro


Cafu carrega o nome da Fundação na camisa: “Mais um sonho realizado”

Quem via o garoto Marcos Evangelista de Moraes jogar nos campos de terra do Jardim Irene, periferia da zona sul, não imaginava que ele saltaria da terra batida para os gramados de grandes clubes. Na época, apenas um menino, como muitos outros, com muita vontade de se tornar um grande jogador de futebol.

A paixão pelo esporte, como Cafu mesmo diz, sempre esteve no sangue. “Essa paixão é antiga, desde que nasci. Eu nasci na época da Copa de 70 e já nasci com a bola nos pés”, afirma.

A infância, marcada pelas partidas no bairro e por outras lembranças. “Várias épocas me marcaram no Jardim Irene, como quando eu jogava bolinha de gude com os amigos, as brincadeiras, o futebol, tantas coisas”, relembra.

Do Nacional, onde iniciou a carreira, à Portuguesa, Itaquaquecetuba, São Paulo, Zaragoza, Palmeiras, Roma, Milan e, claro, 140 partidas pela Seleção Brasileira.

Entre tantos desafios e conquistas, ele não se esquece de um momento. “O mais marcante, com certeza foi quando eu ergui a taça na Copa de 2002”. O nome do bairro, que nunca foi notícia, passou a ser visto pelo mundo todo, 100% Jardim Irene. Foi o que Cafu escreveu na camisa da seleção brasileira quando ergueu a taça, como capitão da equipe.

Um velho sonho realizado

Em 2004 surgiu a idéia de criar uma instituição que beneficia a comunidade do bairro onde cresceu. Assim nasceu a Fundação Cafu, que hoje atende a mais de 600 crianças, jovens e adultos do Jardim Irene e de outros bairros vizinhos. Em comemoração ao dia das crianças, a instituição realizou várias atividades no dia 10 de outubro, quando Cafu esteve presente.

Juan Carlos Almeida Silva, de 12 anos, participa dos projetos da Fundação. Todos os dias, há quatro anos, ele acorda cedo para aprender capoeira, futsal e artes, depois vai direto para a escola. Quando perguntado se ainda joga futebol na rua, ele responde: “Não tenho mais tempo, jogo futsal na Fundação. Gosto muito das aulas, prefiro jogar lá que jogar na rua”. A mãe, Cleide Silva, concorda. “Com essas coisas, a criança aprende a ter responsabilidade, não dá tempo nem de ficar na rua”, afirma.

“O que é mais gratificante é ver que essas crianças aprendem, se desenvolvem”, diz o jogador.

Como um jovem da periferia, Cafu afirma que passou por muitas dificuldades, mas dá um conselho: “Sigam em frente, aprendendo, se desenvolvendo. Nunca se envolvam com drogas e continuem na luta por seus sonhos”, conclui.