terça-feira, 16 de junho de 2009

Matéria 9 - editoria Vida Real

Drogas, e agora?

A história de quem vive ou já viveu o drama e o mais importante: como lidar com a situação



Ana Paula Amanso, 39, há três meses abandonou o crack que, segundo ela, passou a usar para fugir dos problemas que enfrentava na época. Por vergonha de sua aparência, deixou a casa, o filho de 13 anos e os familiares, e passou a ser moradora de rua. A família, no desespero, chegou a fazer boletim de ocorrência, relatando que Ana havia desaparecido.

“Depois que a minha mãe foi à delegacia, acho que ficou desconfiada e ia direto à Cracolândia me procurar, só que eu me escondia. Não queria que ela me visse naquele estado”, relata Ana que, durante três meses, fugiu da família.

Hoje, recuperada do vício e após ter retornado para a casa, Ana enfrenta outro problema. “A minha dificuldade é conseguir tirar do crack a pessoa que me ajudou a sair, o meu marido”, desabafa.

Todos os dias ela sai para vender bolos, tortas, café e chá, no ponto de ônibus no centro de São Paulo. Quando termina a sua “jornada”, ela continua no centro e passa o restante do dia, pois esta foi a única maneira que encontrou para ficar perto do marido, que às vezes chega a ficar 7 dias fora de “casa”, na mesma situação em que ela ficava como moradora de rua.

Ana Paula afirma que para abandonar o vício, além da força de vontade, a pessoa tem que ter o apoio da família e é por isso que ela fica no centro para ajudar o marido. Nos dias de hoje, existem diversos fatores que levam as pessoas a consumirem drogas. Entre os quais, ela destaca a vontade de pertencer a um grupo, curiosidade, ilusão de solucionar o problema, diversão, fácil acesso ou até mesmo por conta de uma família desestruturada.


“Só percebi que o olho dele era azul na cadeia”
Tia e mãe de criação relatam que ao visitar o sobrinho na cadeia a sensação foi terrível, mas que pela primeira vez viram o quanto ele era bonito. “Estava nervosa, mas quando vi o meu sobrinho, o meu coração ficou tranqüilo. Ele estava com a pele tão rosada, o olho dele estava azul, sendo que nunca eu conseguia ver, porque sempre estava drogado e com os olhos vermelhos, nunca vi ele tão bonito” (sic), relata Ione Amorim Siqueira.

Desde pequeno, Thiago Siqueira Amorim, 20 anos, foi criado com a ajuda de sua tia, até os 4 anos morou com ela e logo após foi levado pela família paterna. Ao completar 9 anos, seu pai o levou para a tia novamente e essa foi a história de Thiago, com idas e vindas.

“Desde criança ele nunca morou em um lugar fixo, sempre passou de mão em mão desde pequeno. Não tem como julgar, porque no caso dele faltou carinho”, diz. Thiago Amorim, 20 anos, foi preso por furto. Há três meses, ele foi flagrado roubando um microônibus no bairro onde morava, o dinheiro seria usado para comprar crack e maconha, durante este período ele mandou cartas com pedidos de desculpas e frases de arrependimento, mas basta a família pensar que tudo vai melhor, que o rapaz de 20 anos volta a cometer erros.

Thiago que estava ameaçado no bairro onde morava, na zona sul, agora é ameaçado dentro da cadeia. “Pensei que depois que ele foi preso ia melhor, mas agora está pior, porque ele faz dívidas de drogas lá dentro e joga para a família pagar”, relata Ione Amorim, que hoje tem medo de ficar em casa, após ter sido ameaçada por telefone.

“Depois que invadiram a minha casa, eu tenho medo de atender o celular, porque eles ligam pedindo dinheiro e que se não depositar vão matar o meu filho, eu não consigo dormir direito e até tirei a campainha de casa”, declara Maria Erlândia, mãe biológica de Thiago, que espera pelo julgamento do filho.

O sofrimento que a família passa nessas horas é enorme, nos dias de hoje, existem diversos fatores que levam as pessoas a consumirem drogas dos quais se destacam: vontade de pertencer a um grupo, curiosidade, diversão, fácil acesso, família desestruturada ou até mesmo pela ilusão de solucionar problemas.

Fique atento!

Voz da Periferia: Como os pais podem notar que seu filho está usando algum tipo de droga?
Tatiana Helena - Especialista em Dependência Química: O consumo de substâncias químicas altera o comportamento do indivíduo, alguns indicativos tais como abandono de atividade antes prazerosas, dificuldade para dormir ou excesso de sono, apetite e até mesmo agressividade.

Voz da Periferia: Ao perceber comportamentos estranhos, ainda no início do problema, qual deve ser a reação dos pais?
Tatiana Helena - Especialista em Dependência Química: É estreitar e fortalecer o vínculo afetivo, orientá-lo a respeito dos prejuízos causados pelo consumo de substâncias psicoativas, sem “terrorismo”. Os pais devem buscar auxilio em instituições ou livros/artigos que falem sobre os problemas causados e por fim buscar um local específico que ofereça tratamento.

Voz da Periferia: Se o consumo de drogas já está em estágio avançado, qual é o melhor caminho para a recuperação?
Tatiana Helena - Especialista em Dependência Química:
Pesquisar, procurar um local adequado para o tratamento de pessoas que tenham problemas relacionados do consumo de álcool e drogas.

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