quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Matéria 3 - editoria Voz Ativa

Associações comunitárias:
saiba como colaborar com o seu bairro


Trabalho dos moradores beneficia periferia
e traz melhorias à população



Gilson Rodrigues: é um dos mais jovens líderes comunitários e trabalha com uma região de mais de 80 mil habitantes

Falta de iluminação, assaltos, problemas com rede de esgoto, carência de creches. Todas essas e outras reivindicações são feitas pelos moradores de vários bairros, muitos deles com a dimensão de uma cidade, como Heliópolis, com 125 mil habitantes e Paraisópolis, com 80 mil.

As “Polis”
O trabalho começa aos poucos, os moradores, muitos destes vindos do nordeste, vão chegando aos bairros, e com o crescimento aumenta as necessidades e a vontade de melhorar a região.
É o caso de Heliópolis, na zona sul, considerada a maior favela de São Paulo. A união dos moradores fez nascer a UNAS (União de Núcleos, Associações e Sociedades dos Moradores de Heliópolis e São João Clímaco), reconhecida nacionalmente com projetos de geração de renda, alfabetização, telecentro, habitação, jornal e rádio comunitária, creches, entre outras ações que beneficiam muitos da região.

“Temos 42 projetos para crianças e adolescentes e o apoio de muitas empresas. Agora estamos reivindicando um projeto para a terceira idade, que ainda não temos”, afirma Renato Carlos, assistente administrativo da UNAS e ex-aluno dos programas da associação.

A força da comunidade dá resultados. Em maio deste ano, a UNAS recebeu a visita do presidente Lula, que veio anunciar a urbanização do bairro, com recursos do PAC (Plano de Aceleração do Crescimento).

Uma novidade que deixou muitos jovens satisfeitos foi a concessão de mil bolsas de estudo, da Universidade São Marcos para os moradores da região, em troca de serviços comunitários.

Há até programas sobre assuntos que pouca gente conhece, mas que são importantes para a juventude, como o NPPE (Núcleo de Proteção Psicossocial Especial). Uma parceria entre a UNAS e a prefeitura da cidade.
Neste programa os jovens entre 12 e 18 anos de idade, que cumprem Medidas Sócio-Educativas em regime Meio Aberto, como Liberdade Assistida, entre outras, tem a oportunidade de melhorar a auto-estima e as relações sociais, ao rever suas atitudes e buscar sair do ciclo de violência.

Solange Cruz, 42 anos, moradora de Heliópolis há 15 anos, sempre trabalhou com a comunidade, agora ela atua no programa de justiça e educação.

“Trabalhei por duas vezes no Conselho Tutelar, agora trabalho com a mediação de conflitos, que busca resolver os problemas entre alunos e professores por meio do diálogo”, explica.

“A UNAS te dá um espaço, o seu conhecimento é reconhecido, tanto é que consegui um emprego”, conta Mayara Nascimento, 19, que também conseguiu uma bolsa na São Marcos e um trabalho na UNAS, onde foi aluna.

Também na zona sul, Paraisópolis tem um trabalho comunitário forte. A associação comunitária do bairro tem 25 anos e atende 4 mil pessoas, com biblioteca, telecentro, terminal bancário, posto de atendimento da Sabesp e Eletropaulo e programas de alfabetização, jornal comunitário, atendimento jurídico, curso de inglês, cozinha-escola, entre outros programas.

As novidades são a construção de um CEU e uma AMA (Assistência Médica Ambulatorial). Essas e outras conquistas foram reivindicações dos moradores à Prefeitura.

O programa de alfabetização, que tem 40 salas na região é importante para os moradores, já que Paraisópolis tem 15 mil analfabetos. A associação luta por outras melhorias no bairro, como a vinda de mais comércios e serviços, a chegada das Casas Bahia, que empregou 60 pessoas da região e a dos bancos Bradesco e Caixa.

A cada três anos há uma eleição para escolher a diretoria da associação, este ano acontece de novembro a dezembro. Neste período são espalhados 14 pontos de votação por Paraisópolis.

A campanha tem direito a tudo, faixas, placas, carro de som, e o famoso boca-a-boca. Todos que trabalham nesse tipo de associação recebem bolsa auxílio, já que dedicam muitas horas da semana, ou todos os dias, a este trabalho.

“Fazemos reuniões todo mês e qualquer morador tem autonomia para dizer que é da associação para resolver algum problema com a prefeitura ou outra instituição. O atendimento à associação é mais rápido”, explica o presidente da associação de moradores de Paraisópolis, Gilson Rodrigues.

Ele também afirma que a associação tem um papel importante, mas nem todos os moradores estão ligados a essa questão, alguns nem sabem da existência da associação ou de onde vem algum benefício que recebem.

“Às vezes você dá o benefício para a pessoa, mas ela nem sabe de onde vem. O jornal da comunidade tem ajudado muito, mas a população ainda tem muito a conhecer”, explica ele.

“Esse trabalho não me afeta diretamente, mas acho que para comunidade foi muito bom, pelo que eu vejo e escuto falar”, diz o estudante Fernando Ferreira, 22, morador do Paraisópolis há quase 15 anos.

O trabalho voluntário
Além das associações comunitárias, há aqueles que decidem trabalhar em benefício da comunidade em trabalhos voluntários. Este é o caso de Andrea Cristina Sampaio, 34, Cleusa Aparecida Martins, 35 e Maria de Lourdes Martins, 33, que juntas formam o Conselho Popular de Saúde do Jardim São Francisco, em São Mateus, zona leste de São Paulo.

Além de fazerem parte do orçamento participativo, onde os moradores debatem como o dinheiro público pode ser usado em sua região, elas também reivindicam pela melhoria da saúde no bairro.

“Um dos grandes problemas é falta de um pediatra no AMA do Jardim São Francisco. Outro problema grave é o número de jovens envolvidos com as drogas e o álcool”, diz Andréa.

Juntas elas visitam as famílias da região, para marcar consultas, buscar remédios e esclarecer algumas dúvidas. Nesse trabalho afirmam que já atenderam cerca de mil pessoas, que vão ao encontro ou que as procuram em suas próprias casas por problemas de saúde ou até mesmo outras necessidades, como cestas básicas.

As três voluntárias, junto com outros movimentos, conseguiram enviar três propostas na área de saúde para o plano de governo da então candidata à Prefeitura de São Paulo, Marta Suplicy. Todos os projetos foram aprovados e abrangem não só a região de São Mateus, mas as carências de saúde em vários bairros da periferia.

Gerônimo Barreto, 44, presidente da Associação de Moradores Nossa Senhora Aparecida, também em São Mateus, reivindica uma assistência melhor às 1.500 famílias que tiveram que sair de suas moradias para dar lugar às obras do Complexo Viário Jacu-Pêssego.

“É um problema muito sério o que está acontecendo lá, vemos muitas famílias desabrigadas”, diz ele, que participa de projetos da comunidade com as três voluntárias do Conselho Popular de Saúde.

Você sabe o que são CONSEG'S?


A reunião do CONSEG da Brasilândia chega a reunir mais de 50 moradores

Os CONSEG’s (Conselho de Segurança) são formados por pessoas de um mesmo bairro que se reúnem todos os meses para planejarem e debaterem problemas e soluções para a melhoria de suas regiões e fortalecerem as relações com lideranças locais, como as subprefeituras. Só na capital são 84 grupos como este, e outros 40 na Região Metropolitana.

Participam dos CONSEGs um comandante da Polícia Militar, um Delegado da Polícia Militar ou Civil, um representante da SABESP, representante da subprefeitura, além de moradores, comerciantes do bairro e as associações comunitárias.

A equipe do Jornal Voz da Periferia visitou a reunião do CONSEG da Brasilândia, zona norte, no dia 16 de setembro.

A grande reclamação dos moradores foi o aumento dos assaltos na região, a falta de iluminação e o asfalto ruim em algumas ruas.

Na próxima reunião, que acontece toda terceira terça-feira do mês, todos voltam a se reunir para verificar se os problemas foram solucionados.

Para participar das reuniões do CONSEG de sua região basta procurar o Conselho de seu bairro ou ligar para o telefone (11) 3291-6979 para saber informações sobre o grupo mais perto de você.

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