quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Periferia na Bienal do Livro


No último sábado fomos na Brasilândia atrás de pautas, depois fomos no Anhembi, na Bienal do Livro. Assistimos um debate sobre literatura periférica. Participaram do debate, mediado pelo jornalista Chico Pinheiro, Sérgio Vaz, Allan da Rosa, Sacolinha e Alessandro Buzo, todos escritores da periferia. Confira:

Periferia marca presença na Bienal do Livro


Izabela Vasconcelos

Escritores da periferia nas grandes editoras rompem com a identidade e objetivo da periferia? Ou melhor: é possível ser independente em uma grande editora? Essa foi a questão levantada pelo jornalista Chico Pinheiro no debate sobre literatura periférica, no último dia 23/08, na Bienal do Livro de São Paulo. Participaram do debate Sérgio Vaz, Allan da Rosa, Sacolinha e Alessandro Buzo, todos escritores da periferia.

O tema deu o tom ao debate, para a maioria deles a periferia tem que mostrar seu trabalho, independente de ser em uma grande editora ou não.

Sérgio Vaz, Sacolinha e Alessandro Buzo já têm livros publicados por grandes editoras, como a Global, já Allan da Rosa publica livros por meio de sua editora independente, a Toró.

Para Sérgio Vaz, idealizador da Cooperifa, a grande editora não representa o sucesso do autor ou não. “Não é a chancela de uma grande editora que vai dizer se a gente é bom ou não”, afirmou.

Allan da Rosa acredita que uma editora independente tem um diferencial positivo que as grandes editoras não têm, a acessibilidade para os leitores, a abertura do caminho para a literatura. “Os livros de uma editora independente chegam aonde os livros de uma grande editora não chegam”, explicou.

A periferia se mostra
Na TV, nos debates, nas livrarias, na Bienal. A periferia está ganhando espaço. Para o escritor Alessandro Buzo a Internet é uma grande aliada nesse trabalho de divulgação da arte periférica. “A Internet foi predominante para divulgar nosso trabalho. Nós só tínhamos a grande mídia, que geralmente não abre espaço para a periferia, só no caderno policial. Não abre espaço para coisas positivas”, afirmou o escritor, que agora tem um quadro no programa Manos e Minas, da TV Cultura.

Os saraus abriram espaço para as pessoas expressarem suas opiniões, mostrarem sua arte e imergirem no mundo da literatura. “A gente incentivou a ler, mas também incentivou a escrever”, ressaltou Sacolinha.

“A periferia está vivendo sua primavera de Praga, a nossa Bossa Nova. Nós conseguimos reunir 500 pessoas para ouvir poesia e isso brotou das ruas de terra, do chão puro, do esgoto, da porta de escola, do aposentado que não recebe o salário. Isso não é revolução, é evolução. O povo quer isso, nós estamos vivendo na periferia como se fosse outro país”, disse Sérgio Vaz a respeito dos movimentos culturais que surgiram e estão surgindo na periferia.

“Ver tudo isso me emociona, são 37 anos de jornalismo e eu posso dizer que esse é um momento histórico neste país. A periferia está se mostrando, mostrando sua arte”, encerrou Chico Pinheiro, que já freqüentou o Sarau da Cooperifa e afirmou estar encantado com os movimentos culturais que surgiram na periferia.


Confira parte do debate:


quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Um livro inspirador para o projeto



Quando eu terminei de ler o livro Notícias da Favela da jornalista Cristiane Ramalho eu me perguntei: - por que não li esse livro antes? A obra conta todo o processo de construção do portal Viva Favela, da ONG Viva Rio, no estado do Rio de Janeiro. É o primeiro site jornalístico com notícias das favelas do Rio de Janeiro, e sem estereótipos, como a grande mídia faz. Sem estereótipos porque é um trabalho em parceria com os próprios moradores das comunidades. Moradores do Complexo do Alemão, Rocinha, entre outras comunidades, trabalham diretamente com os jornalistas. Eles participam das reuniões de pauta, sugerem temas e vão atrás das pautas, encontram entrevistados e no final escrevem a matéria ao lado de jornalistas do portal. Eles, os moradores, melhor do que ninguém, conhecem muito as suas comunidades e têm um olhar atento para as suas necessidades.

Quem visitar o portal verá que é um projeto muito completo, com galeria de fotos, arquivo de matérias especiais, site específico de meio ambiente, editorias de educação, saúde, trabalho, entre outros temas.

O livro é um relato das conquistas do portal, da relação da mídia com as favelas, dos jornalistas do portal com a comunidade, das necessidades desse público e do quanto ele é mal retratado pela impressa. As pessoas esquecem que nas favelas e periferias há gente trabalhadora, honesta e talentosa, é isso que as matérias do portal mostram, sem esquecer dos problemas de violência e desigualdade social, mas sem deixar que eles prevaleçam e apaguem o lado de luta que existe nessas comunidades.

Com certeza é um projeto inspirador para o nosso TCC, já que também temos a proposta de abordar o outro lado da periferia que a mídia não aborda. Existe uma grande lacuna na mídia em relação à periferia. No Rio de Janeiro há muitos movimentos em prol das regiões mais carentes. Em São Paulo não há veículos de comunicação voltados para a periferia. Há programas de TV, como o Central da Periferia, da TV Globo e o Manos e Minas, da TV Cultura. Mas e no meio impresso? A periferia fica esquecida e suas reais necessidades não são atendidas, seja porque esteja distante dos interesses comerciais dos empresários da mídia, seja porque muitos empresários e jornalistas não entendem a periferia, suas necessidades, seus gostos. Mas por que não tentar? O jornalismo não tem um papel social? É o que todos escutam nos quatro anos de faculdade. Por que não pensar no social?

Izabela Vasconcelos